terça-feira, 12 de julho de 2011

Fé e Luta.

Um dos mais influentes intelectuais do país, Frei Betto, ao publicar “Batismo de Sangue”, prestou um inestimável serviço à nossa Literatura histórica. Seu relato sobre a caçada implacável a Carlos Marighela e o calvário de Frei Tito, expuseram de forma crua a ainda incômoda ferida dos anos mais duros da Ditadura Militar. Há uma percepção clara de que os abnegados que pegaram em armas contra o governo, no fundo, mais do que uma pretensa guinada comunista, queriam de fato uma sociedade mais igualitária, imbuída dos princípios mais básicos do cristianismo, daí talvez o envolvimento tão radical dos dominicanos com as várias organizações de esquerda do período, em especial com a ANL.
O autor, apesar de personagem central de boa parte dos acontecimentos tratados na obra não se furta a jogar luz sobre a trajetória de companheiros, que em maior ou menor grau, se martirizaram em uma luta, que desde o seu início, se configurava em ato quase suicida.
Não é de todo absurdo, entender “Batismo de Sangue” como a tradução literária  do título Glauberiano, “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”, onde o delegado Sérgio Fleury encarnaria à perfeição o mítico animal em perseguição mortal à Frei Tito. Este último, por sinal, após sofrer as mais terríveis torturas físicas e mentais, sofreria por anos a fio as seqüelas da repressão. A narrativa da perda progressiva de sua sanidade talvez seja o momento crucial do livro. Exilado, distante de sua luta e de seu país, Frei Tito permaneceria em solo francês embora sua alma seguisse encarcerada no DOP’s paulista, sofrendo as sevícias impostas pelo dragão Fleury. A liberdade só viria com o ato extremo. Tito descerrou sua alma enlaçando uma corda no pescoço. Seu martírio terminara.
A aridez daqueles tempos, quando contada com o lirismo de Frei Betto, pode até desencadear em alguns desavisados o sentimento de ter se aventurado sobre as nuvens da ficção. Infelizmente estão errados. Foi tudo verdade.

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