domingo, 21 de outubro de 2012

Em nome do prazer...de ler !!!


Cotação : 5 estrelas.


A curiosidade é matriz do trabalho jornalístico e poucos assuntos “excitam” (sem trocadilho) tanto a imaginação do público quanto o sexo. Daí, a iniciativa certeira do jornalista Miguel Icassatti ao organizar alguns dos melhores textos já publicados sobre o tema em vários órgãos de imprensa do país.

                “Um Sábado no Paraíso do Swing” é uma ode ao que se convencionou chamar de jornalismo literário. Craques de várias gerações de redações, escrevem com precisão, rigor apurativo, leveza e humor sobre questões que  abordadas por penas menos talentosas, poderiam facilmente descambar para a vulgaridade pura e simples.

                A matéria que batiza o livro, por exemplo, é uma irresistível narrativa de Marcelo Duarte (titular do “Loucos por Futebol”, na ESPN e autor do excelente “Guia dos Curiosos”) sobre uma reunião de casais swingers em um clube fechado, onde ocorria com naturalidade trocas de casais e sexo grupal. Duarte simulou ser um casal com uma colega jornalista para ter acesso ao grupo, mas , em comportamento profissional, não participou das “brincadeiras”.

                Outro destaque é a revelação dos bastidores do sexo em Brasília, por Marcos Emílio Gomes, reportagem que explicita a relação sempre estreita entre o sexo e o poder. O volume avança sobre preferências ortodoxas, como o Sadomasoquismo, comenta a surpreendente indústria do sexo japonesa, ilumina os cenários escuros das produções pornôs e desvenda os corredores de casas de massagem, velhos cabarés e boates dedicadas à prostituição, por sinal, a atividade profissional mais antiga do mundo, é tema recorrente em perfis de rara sensibilidade que vão muito além dos clichês.

                Icassatti também acerta ao escolher dois textos clássicos que merecem entrar em qualquer antologia jornalística independentemente do tema : a revelação da verdadeira identidade do cartunista Carlos Zéfiro, realizada por Juca Kfouri para a Revista Playboy e considerada pelo próprio como a sua maior façanha na profissão, e a histórica entrevista do Pasquim com o mítico Madame Satã, realizada em 1971 pela equipe estrela do jornal (Sérgio Cabral, Paulo Francis, Millor Fernandes, Jaguar, Fortuna, Paulo Garcez e Chico Júnior) e republicada na íntegra. Só esses dois textos já justificariam a cotação máxima creditada ao livro.

                No entanto, se fosse para escolher apenas um entre os muitos destaques dessa coletânea essencial, ficaria com o brilhante “ Loja de Brinquedos para Adultos”, em que o jornalista Guilherme Pinha Pinto (precocemente falecido, em 1996, aos 47 anos) disseca o dia a dia de uma sexshop para a edição de setembro de 1995 da Playboy. Simplesmente sublime.

Entre tantos textos que se debruçam sobre os vários aspectos da atividade que mantêm a existência da humanidade, o leitor pode estar seguro que de uma forma ou de outra atingirá o êxtase, ainda que literário.


domingo, 14 de outubro de 2012

Na terra dos gigantes



Cotação : 5 estrelas


Experimente pesquisar, em uma livraria real ou virtual, a quantidade de títulos que versam sobre futebol : biografias, memórias, perfis, romances, ensaios e até teses acadêmicas em profusão farão o deleite de quem é fã do velho esporte bretão. Existe até uma  loja, a Folha Seca, localizada no Rio de Janeiro,  quase que inteiramente dedicada ao assunto. Nem sempre  foi assim.

Até bem pouco tempo atrás, havia um fosso intransponível entre o mundo das letras e o universo da bola. Raros eram aqueles que, fora das páginas dos jornais esportivos, se dedicavam em letra de forma ao futebol como tema. Mário Filho, com “O Negro no Futebol Brasileiro” e “Viagem em torno de Pelé”, pode ser considerado um pioneiro nesse quesito. Em 1965, a ele se juntaram João Máximo e Marcos de Castro, com a publicação de “Gigantes do Futebol Brasileiro”.

Lançada pouco antes da Copa da Inglaterra, a obra rapidamente se esgotou e, em parte devido ao fracasso da Seleção na terra da Rainha que inibiu uma nova edição e pela falta de visão de outras editoras, virou quase que uma lenda  por sua raridade e importância.

Só agora, 46 anos após sua edição original, “Gigantes” volta às livrarias, embalado em um moderno e belíssimo projeto gráfico, bem como enriquecido por novos personagens que, ao longo do desenvolvimento do nosso futebol nas últimas cinco décadas, fizeram por jus ter suas histórias também registradas.

É claro que todo o processo de escolha, quanto mais se tratando de tema tão passional, traz muitos questionamentos. Isso inclusive já havia acontecido em 65, quando os autores ignoraram o Mestre Didi, bicampeão do mundo,  e Ademir, o Queixada, herói vascaíno. Essas duas ausências, as mais sentidas na primeira edição, são lamentadas por Máximo e Castro que agora pagam com juros e correção monetária tais omissões. Ambos os perfis foram os primeiros a serem incluídos.

Além de Ademir e Didi, outros sete “gigantes” se juntam ao elenco original, são eles : Gérson, Rivelino, Tostão, Falcão, Zico, Romário e Ronaldo.  Já os perfis pré existentes, Friendenreich, Fausto, Domingos da Guia, Leônidas, Tim, Romeu, Zizinho, Heleno, Danilo, Nílton Santos, Garrinhcha e Pelé, foram reescritos.

Antes que alguns mais críticos perguntem por Reinaldo , Zagallo, Pepe, Canhoteiro,  Dida ( o do Flamengo , não o goleiro), Sócrates, Júnior, Djalma Santos, Carlos Alberto Torres, Paulo César Caju, os goleiros Gilmar ( o campeão de 58 e 62), Castilho, Barbosa e tantos outros, os autores esclarecem que os 21 “eleitos” não são necessariamente os maiores jogadores brasileiros de todos os tempos, nem os únicos gigantes, são só aqueles que, por motivos diversos, foram escolhidos para que suas histórias fossem imortalizadas em livro. De fato, talvez 10000 páginas seriam ainda insuficientes para registrar toda a grandiosidade do nosso futebol.

Por ora, resta afirmar que o relançamento de “Gigantes do Futebol Brasileiro” traz de volta às prateleiras um título essencial para se entender e admirar a dimensão mítica da paixão maior do nosso povo, elemento indissolúvel de nossa alma tupiniquim.