domingo, 18 de setembro de 2011

Entra a bola e a garrafa.

Cotação : 5 Estrelas


Em dezembro de 2009, em um debate na ABI, Ruy Castro afirmou que logo após ter publicado a biografia de Nelson Rodrigues (O Anjo Pornográfico), pensou em escrever sobre o alcoolismo, a partir de algum personagem quer houvesse sofrido com a doença. O nome de Garrincha veio quase que instantaneamente.Em dezembro de 1995, poucos dias após o livro ter sido lançado e já com as notícias sobre a possível proibição da obra (o que se confirmaria no ano seguinte), comprei meu exemplar e fui totalmente absorvido pela triste história do camisa 7 botafoguense. É praticamente impossível não se emocionar com a derrocada de um ídolo contada em riqueza impressionante de detalhes. A cada avanço de páginas, a vontade de voltar no tempo e evitar o fim anunciado, era quase que irresistível. Cheguei a sonhar com o livro e reli inúmeras passagens ao longo desses anos. "Estrela Solitária" ultrapassa a barreira dos que gostam de futebol. É um livro sobre o drama humano, que nâo poupa os heróis ou semideuses. Páginas imortais de um dos nossos maiores escritores

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A Suécia na primeira divisão do romance policial.

Cotação : 5 Estrelas.


Para aqueles que só se lembravam da Suécia como um país distante onde o Brasil ganhou o seu primeiro título mundial de futebol, ou ainda por ser a terra famosa pelas louras desinibidas, "Os Homens que não amavam as mulheres", o primeiro volume da trilogia Millenium de Stieg Larsson, coloca o país na primeira divisão da literatura policial.
Larsson morreu em 2004 sem testemunhar o sucesso mundial de sua criação. Era um típico jornalista gauche, retratado por seu alter ego no livro, o intrépido Mikael Bromkvist, responsável pela revista Millenium. O jornalista denuncia as práticas desonestas de um famoso financista, mas é condenado por difamação, o que quase arruina sua carreira e a de sua publicação. Quase ao mesmo tempo, se envolve na investigação do desaparecimento de uma jovem integrante da poderosa família Vangler, em troca de provas que possam salvar sua reputação.Este é o enredo básico mas as surpresas e reviravoltas dão à história um atmosfera única de mistério e emoção presentes nas grandes narrativas policiais. Mas apesar de todas essas qualidades, o grande gol de placa de Stieg Larsson foi a criação da personagem Lisbeth Salander.
A jovem hacker, quase punk, que auxilia Mikael a desvendar os mistérios da obra, é uma verdadeira atração à parte. Sua figura ilumina toda a trama e pode desde já integrar o seleto grupo dos personagens símbolo do gênero. Ela praticamente "rouba" o livro.
Uma pena que a saga de Lisbeth e Mikael fique limitada a três livros.Larsson tinha ainda muito a contar sobre as aventuras desses personagens ímpares.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O Grito do Ipiranga libertado do quadro.

Cotação : 4 Estrelas

Laurentino Gomes segue na sua relevante empreitada de desmitificar a história oficial a traduzindo para uma linguagem jornalística moderna, proporcionando ao grande público o acesso à informações antes restritas aos círculos acadêmicos.
A julgar pela lista de best sellers, o autor vem atingindo o seu objetivo, iniciado com o excelente "1808", e prosseguindo agora com a publicação de "1822".
Apesar de serem obras "gêmeas" de inegável qualidade, "1822" talvez se situe um degrau abaixo de seu antecessor. Se em "1808" a apuração minuciosa e sem pressa, bem como a independência da cultura universitária foi um trunfo, em "1822" nota-se uma certa aproximação reverente à Academia, que se transformou em subjugação, como se Laurentino pedisse licença aos Mestres e Doutores universitários para escrever um livro de divulgação científica sobre a história do Brasil. Essa impressão me é reforçada com as inúmeras citações inseridas em cada capítulo que, apesar de concederem solidez às informações, tiram muito do prazer literário tão abundante em "1808". Talvez a urgência em se produzir um sucessor que mantivesse aquecido o filão aberto pelo primeiro livro, explique essa recorrência exagerada às fontes oficiais.
Mesmo assim, "1822" é uma publicação fascinante, que traz à realidade a clássica imagem do "Grito do Ipiranga", libertando-a da cena imaginada por Pedro Américo.