Cotação : 4 estrelas
A
frase acima, de autoria de A.M.Rosenthal, resume a importância da seção de
obituário em um dos maiores veículos da mídia impressa mundial, o New York
Times.
A
editoria, vista durante muitos anos como uma espécie de deserto do bom
jornalismo, para onde alguns poucos condenados eram enviados a fim de cumprir
suas penas, ganhou relevância à medida que passou não só a se ocupar de
figurões das artes ou da política, e se debruçou sobre a vida de pessoas comuns
que, em algum momento , fizeram coisas incomuns. Isso tudo embalado por um
texto salpicado dos requintes do "jornalismo literário", essa
entidade difícil de classificar, mas fácil de reconhecer em qualquer texto que
fuja da camisa de força do lead e incorpore os elementos que fazem da palavra
escrita um raro prazer. "O livro das Vidas", organizado por Matinas
Suzuki Jr, está repleto deles.
É
claro que a variedade de autores e personagens acaba por dar uma certa
irregularidade ao conjunto da obra. Alguns podem não ser tão interessantes aos
olhos do leitor brasileiro. Por outro lado, há uma penca de figuras que
despertariam curiosidade em qualquer parte do mundo: Edward Lowe, que
acidentalmente inventou o Kitty Litter e deu novo rumo à domesticação de gatos;
Stanley Adelman, notório mecânico de máquinas de escrever, que salvou o
instrumento de trabalho de dezenas de escritores famosos; Albert P. Blaustein,
o advogado judeu que ajudou a formatar as constituições de um sem número de
países; Herbert Huncke, ladrão, viciado e garoto de programa que inspirou
muitos artistas da geração beatnik; Douglas Corrigan, o tresloucado aviador que
ao zarpar da Costa Leste Americana rumo à Los Angeles, "errou" a rota
e foi pousar na Irlanda...
Todas
essas trajetórias acabaram capturadas pela sensibilidade e talento dos melhores
jornalistas a serviço do NYT. O livro pode ser entendido como uma sincera
homenagem a esses operários da escrita, embora, há um claro destaque para um
deles: Robert McG. Thomas Jr, autor da maioria dos textos do livro e,
ironicamente, tema do último obituário selecionado para "O Livro das
Vidas". Felizmente a palavra escrita permanece para muito além da morte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário