Cotação : 3 estrelas
De vez em
quando, nos deparamos com livros que partem de premissas interessantes e
originais, porém, por inexperiência do autor, pecam na exposição de suas
idéias. Esse parece ser o caso de “O Trevo e a Vassoura”.
Escrito por Gabriel
Kwak, jovem jornalista que estudou o tema em sua pós graduação, o livro traça
um paralelo entre dois dos mais importantes políticos de São Paulo no século XX
: O ex-presidente Jânio Quadros, que
tinha a vassoura como símbolo eleitoral, e Adhemar de Barros, que foi prefeito
e governador do estado, tendo fundado e liderado uma corrente política (o Adhemarismo)
e que usava o trevo como símbolo.
Para uma
leitura simplificada da história oficial, Jânio Quadros, estigmatizado pela
renúncia à Presidência em 1961, que levou o país, em ultima instância, ao golpe
de 1964, acabou caracterizado como instável e pouco confiável. Alguém que
sofria , para usar um jargão psiquiátrico, de uma bipolaridade política, capaz
de fazê-lo agir de forma intempestiva, surpreendendo até mesmo seus aliados de
primeira hora.
Por outro
lado, o médico Adhemar de Barros, apesar da realização de grandes obras que
mudaram a paisagem da cidade, passou a ser sinônimo de improbidade
administrativa. O slogan “rouba, mas faz”, cunhado por adversários, relegaram o
adhemarismo a uma bandeira do atraso e do descompromisso com a ética pública. É
notável que o episódio conhecido como “o assalto ao cofre do Adhemar”, já
contado em inúmeros livros e que consistiu na roubo de milhões de dólares do cofre
mantido pelo político na casa de sua amante (conhecida pela alcunha “Dr.Rui”),
no Rio de Janeiro, ação impetrada por grupos da esquerda armada em 1969, cause
aquele sentimento comum expresso no ditado popular, afinal de contas, “ladrão
que rouba ladrão...”
Embora em
grande parte verdadeiros, esses reducionismos na interpretação dos papéis
históricos desempenhados por Jânio e Adhemar, não devem contaminar o
pesquisador, talvez aí resida a casca de banana em que escorregou Kwak.
Ao longo das
mais de 300 páginas do volume, o jornalista não esconde um olhar um pouco mais
caridoso ao ex-presidente, que, inclusive, é objeto da maior parte do livro.
Para Adhemar , o autor utiliza até mesmo adjetivos vulgares (como “escroque”),
que desnudam a sua postura tendenciosa diante do personagem, gerando um
evidente desequilíbrio na avaliação dos perfis.
Envergar a
linha da neutralidade em direção à vassoura, ainda que seja um pecado, não tira
totalmente o valor da obra, que mesmo assim, é um documento importante para
aqueles que se interessam por nossa história política, notadamente, pelas
correntes populistas do século passado.
Quem sabe,
será uma bela porta de entrada para futuros estudos que aprofundem o tema,
dessa vez com uma visão mais sóbria, que coloquem o trevo e vassoura sobre a
mesma prateleira.
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