sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Muita vassoura, pouco trevo.


Cotação : 3 estrelas


De vez em quando, nos deparamos com livros que partem de premissas interessantes e originais, porém, por inexperiência do autor, pecam na exposição de suas idéias. Esse parece ser o caso de “O Trevo e a Vassoura”.

Escrito por Gabriel Kwak, jovem jornalista que estudou o tema em sua pós graduação, o livro traça um paralelo entre dois dos mais importantes políticos de São Paulo no século XX :  O ex-presidente Jânio Quadros, que tinha a vassoura como símbolo eleitoral, e Adhemar de Barros, que foi prefeito e governador do estado, tendo fundado e liderado uma corrente política (o Adhemarismo) e que usava o trevo como símbolo.

Para uma leitura simplificada da história oficial, Jânio Quadros, estigmatizado pela renúncia à Presidência em 1961, que levou o país, em ultima instância, ao golpe de 1964, acabou caracterizado como instável e pouco confiável. Alguém que sofria , para usar um jargão psiquiátrico, de uma bipolaridade política, capaz de fazê-lo agir de forma intempestiva, surpreendendo até mesmo seus aliados de primeira hora.

Por outro lado, o médico Adhemar de Barros, apesar da realização de grandes obras que mudaram a paisagem da cidade, passou a ser sinônimo de improbidade administrativa. O slogan “rouba, mas faz”, cunhado por adversários, relegaram o adhemarismo a uma bandeira do atraso e do descompromisso com a ética pública. É notável que o episódio conhecido como “o assalto ao cofre do Adhemar”, já contado em inúmeros livros e que consistiu na roubo de milhões de dólares do cofre mantido pelo político na casa de sua amante (conhecida pela alcunha “Dr.Rui”), no Rio de Janeiro, ação impetrada por grupos da esquerda armada em 1969, cause aquele sentimento comum expresso no ditado popular, afinal de contas, “ladrão que rouba ladrão...”

Embora em grande parte verdadeiros, esses reducionismos na interpretação dos papéis históricos desempenhados por Jânio e Adhemar, não devem contaminar o pesquisador, talvez aí resida a casca de banana em que escorregou Kwak.

Ao longo das mais de 300 páginas do volume, o jornalista não esconde um olhar um pouco mais caridoso ao ex-presidente, que, inclusive, é objeto da maior parte do livro. Para Adhemar , o autor utiliza até mesmo adjetivos vulgares (como “escroque”), que desnudam a sua postura tendenciosa diante do personagem, gerando um evidente desequilíbrio na avaliação dos perfis.

Envergar a linha da neutralidade em direção à vassoura, ainda que seja um pecado, não tira totalmente o valor da obra, que mesmo assim, é um documento importante para aqueles que se interessam por nossa história política, notadamente, pelas correntes populistas do século passado.

Quem sabe, será uma bela porta de entrada para futuros estudos que aprofundem o tema, dessa vez com uma visão mais sóbria, que coloquem o trevo e vassoura sobre a mesma prateleira.

 

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