domingo, 8 de julho de 2012

A noite nunca tem fim



Cotação : 5 estrelas


Na orelha da edição convencional de Pornopopéia (existe uma outra de bolso), o texto sem assinatura vaticina : “ Pela sua atualidade e também pela maneira como o autor domina o texto- de ritmo nervoso, ecoando o que se diz nas ruas, e não nos departamentos de literatura- Pornopopéia é uma experiência única. E seus efeitos não são passageiros.”

O que a princípio poderia ser mera retórica marqueteira da editora é de fato a pura expressão da verdade.

Para os mais apressados, as aventuras do cineasta frustrado Zeca, relegado a produzir vídeos institucionais de salsicha, seriam apenas pornografia da categoria mais baixa possível. A descrição minuciosa de orgias com jovens liberais e prostitutas, regadas a muitas drogas, talvez deixem essa impressão. Mas Reinaldo Moraes consegue mais do que isso. O devasso Zeca é tão bem construído, suas observações despudoradas a respeito da realidade que o cerca tão contundentes, que Pornopopéia não pode deixar de ser o que efetivamente é : grande literatura, um romance símbolo de sua era.

Um outro fator interessante é a condição de cúmplice fornecida ao leitor, pois Zeca, a exemplo de personagens criados por Machado de Assis e Jorge Amado, se dirige diretamente ao leitor em meio ao relato de suas loucuras. Somos agregados à noitada sem fim do narrador.
Além de tudo isso, Reinaldo Moraes utiliza um humor matador, tão politicamente incorreto, quanto irresistível. Em vários momentos, o livro inspira sinceras gargalhadas.

Nunca um autor tão marginal, ocupou lugar tão central em nossas letras.



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