domingo, 20 de novembro de 2011

Paulo Francis foi pro céu.


Cotação : 5 Estrelas

Assim como boa parte de seus leitores, tive uma relação complicada com Paulo Francis. Até 1992, a imagem que tinha do jornalista era a de uma figura de fala engraçada, muito imitada em programas humorísticos, que comentava coisas que não me diziam respeito em um noticiário a que eu não assistia, o Jornal da Globo.
A partir daquele ano, com a transferência de sua coluna bissemanal “Diário da Corte” para o jornal “O Globo” , pude enfim conhecer as idéias do veterano escriba. Foi ódio à primeira vista.
Preconceituoso, elitista, declaradamente de direita e polemista profissional, Paulo Francis fazia de sua tribuna um mural de provocações , muitas vezes batendo abaixo da linha da cintura sem qualquer constrangimento, quando por exemplo, grafou o nome do cineasta Cacá Diegues como Cocô Diegues. Antijornalismo total.
Paradoxalmente, a minha repulsa pelos conceitos emitidos por Francis, não me fazia deixar de ler sua coluna, em uma espécie de masoquismo intelectual. Na verdade, apesar de seus muitos defeitos, o grande atrativo do seu trabalho era o de abrir um leque infinito de opções culturais. A cada domingo (o único dia em que lia a sua coluna, também publicada às quintas), havia um mosaico de citações de escritores, dramaturgos, cineastas, intelectuais, políticos. Era praticamente impossível se manter imune a toda essa exposição de erudição. Por vias tortas, Francis provocava a elevação do gosto, quando muito da curiosidade de seus leitores. O engraçado é que só após a sua morte, e com o vácuo provocado pela extinção da coluna, pude perceber isso.
O breve perfil escrito com maestria por Paulo Eduardo Nogueira, não absolve Paulo Francis. As suas (muitas vezes) irresponsáveis opiniões (uma delas provocando o justo processo de Joel Rennó, ex presidente da Petrobras, o que para muitos provocou a sua morte), pouco afeita aos fatos, têm tanto espaço quanto a defesa de suas (poucas) qualidades gerando, junto com o belo documentário “Caro Francis”, de Nelson Hoineff (2009), um retrato fiel de uma das figuras mais importantes da imprensa brasileira no século XX.
Nos anos 90, havia uma banda de rock carioca batizada de “Paulo Francis vai pro céu”. De fato, a bancada celeste de polemistas ganhou um nobre representante.

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