Cotação 4 estrelas
Não, não é uma autobiografia.
Apesar da editora, talvez por falta de
opção, ter assim classificado o livro de Neil Young, o leitor desavisado que
tiver a expectativa de revelações ou pormenores cronológicos da vida e da
carreira de um dos nomes mais influentes do pop rock dos últimos 50 anos, vai
se decepcionar redondamente.
Apesar dessa ressalva, a leitura de
“Neil Young- A autobiografia”, nos deixa mais intímos do criador de “Keep
rockin´ in the free world” e “Cinnamon Girl” e a prosa honesta e direta do
cantor surpreende pela fluência de um bate papo no bar da esquina. As quase 400
páginas do volume descem leves como uma pluma e deixam à mostra uma
personalidade única no universo da música.
Não sei se algum de vocês acredita em
astrologia, mas é inevitável a detecção de algumas coincidências entre dois
ilustres representantes escorpianos do dia 12/11. Além de Young, Paulinho da
Viola, também veio ao mundo nessa mesma data (fato menos importante, mas de
certa forma revelador : o autor dessas linhas se alinha ao mesmo grupo). No
documentário de 2003, “Meu Tempo é Hoje” , dirigido por Izabel Jaguaribe e
roteirizado por Zuenir Ventura, o mestre portelense deixa claro o seu desprezo
pelo tempo regular, por exemplo quando se esmera na reforma de um velho carro,
montado e desmontado em eternas reformas. Neil Young em seu livro também
partilha desse mesmo desprezo : os episódios e
suas muita particulares versões, são apresentados em uma cronologia
própria, sem qualquer compromisso com a recomendação do mercado editorial de
“facilitar” a vida do leitor. Também é sintomática a paixão desenfreada por carros, que consome
páginas e páginas da obra em descrições minuciosas das características e
circunstâncias de aquisição de cada modelo da gigantesca coleção do músico.
Alguns em estado pleno de conservação e uso, outros aguardando por séculos uma
vaga para restauração, assim como o velho carro de Paulinho.
Outra das paixões de Young é o
ferromodelismo, que o levou até mesmo a ser sócio minoritário de uma das mais
tradicionais empresas do setor. Inclusive o livro abre com esse tema, quando na
primavera de 2011, Neil recebe de presente mais um “trenzinho” para a sua
coleção.
É claro que, apesar de ser um livro
surpreendente e que não cabe nas classificações formais de gênero, boa parte
dele, para alívio de muitos leitores, é sim composta por música ou pela visão
muito particular que o autor tem dela. Por sinal, nunca é demais lembrar, que não
há fómulas para a música de Neil Young. Ele tanto pode navegar pelas águas
muito conhecidas do folk , adentrar as cavernas do hard rock, homenagear o rockabilly
ou brincar com experimentações eletrônicas...Essas duas últimas iniciativas,
inclusive, o levaram a enfrentar um processo por parte da Geffen, inconformada
por Neil Young produzir “música atípica” de Neil Young...
O fato é que a coerência que permeia a
sua carreira multifacetada, onde nada é previsível e tão pouco por acaso, é o
mote dessa “falsa” autobiografia. O velhinho canadense é fiel à dedicação quase
obsessiva por seus projetos (entre eles, quase ia me esquecendo, a criação de
um novo padrão de arquivo sonoro, o Pure Tone, mais próximo da antiga robustez
do vinil), seus hobbies e, sobretudo, pelo seu supremo amor pela música.
Aliás não podia ser diferente, vindo de
quem escreveu o verso “Rock and Roll will never die...”
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